sexta-feira, outubro 27, 2006

Eu dissimulado

Não sabia o que fazia quando estava com ele. Era na ausência que o desejava. Bastava vê-lo indo, acenando o amor inconcretizável. As palavras saiam mudas e carregava aquele algo inominável em seu peito, aquele misto de ardor, felicidade e tristeza. Passava a vida desejando-o como nunca desejara. Via tudo sumir de seu pensar, era apenas. Imaginava como ele a tomaria em seus braços. De uma forma singelamente brutal mordendo seus lábios desesperadamente. Desesperante.
Em sua presença era irreal, errônea, errada. Via-se tomada de máscaras que ocultavam seu eu. Era outra, outras, ela. Incrivelmente despojada, falsamente descomedida. Máscara de proteção. Mas sabia como seus olhos o sorviam, ansiavam, fruíam. Mas ria. Ria uma timidez insana, ocultando a si mesma.
Sabia-se desejada. Sabia-se admirada. Inúmeras vezes sentira o tremor dos seus olhares, a eletrostática do ocasional encontro de suas peles. Momentos eternos de júbilo. Bastava ele saber para provar seu sabor. Ela não conseguiria, não seguiria. Segue sua vida ocultando, dissimulando seu próprio eu. Encobrindo seus instintos, seguindo sua incapacidade. Subtraindo-se daquele que a deseja, desejando o ausente.

3 comentários:

Dita disse...

Olá Lívia, estou fazendo novos amigos, poderia te linkar. Afinal percebo que su blog é bem simples, por isso gostaria de te dar uma dica, para colocar o sistema de comentários o halloscan, é bem melhor. Bjus.

Ricardo Miyake disse...

Nossa, finalmente consigo postar um comentário aqui!!!! Enfim: que texto mais instigante, Lívia! Algo assim, lispectoriano, não?

Anônimo disse...

Oi Livia, estou passando por aqui pela primeira vez. Adorei seu cantinho. Visitarei sempre. Bjs